Em época de Natal, lembrança de um tempo de perfeição…
A teoria do romance
1. Culturas fechadas
Nesta primeira parte de A teoria do romance, Lukács faz uso de uma linguagem um tanto quanto intrincada, às vezes lírica, para explicar ao leitor aquilo que chama de culturas fechadas. A começar pelas três primeiras linhas do livro, já se tem uma idéia de seu cunho abstrato : ”Afortunados os tempos para os quais o céu estrelado é o mapa dos caminhos transitáveis e a serem transitados, e cujos rumos a luz das estrelas ilumina” (p. 25). A princípio, não se sabe que tempos afortunados são esses, a não ser pela insinuação de que são tempos em que há uma grande integração, ou uma grande unidade, entre o sujeito e o objeto, entre o eu e o mundo. A seguir, Lukács explica que os tempos afortunados são aqueles que não têm filosofia (p. 26) e que a era em que não há nenhuma alteridade para a alma é a era da epopéia. Nesse período, o da epopéia, mais exatamente o da poesia épica de Homero, “ser e destino, aventura e perfeição, vida e essência são conceitos idênticos” (p. 26/27). À totalidade do mundo épico grego, Lukács contrapõe a dissipação do mundo da filosofia — mundo este movido pela produtividade do espírito, pela dissociação entre o eu e o mundo, pela ascensão da coerção imposta pelas formas (no sentido platônico) — que, então, estava nascendo e que, de certa forma, sobrevive até a modernidade. Em outras palavras, Lukács afirma que “da absoluta imanência à vida, em Homero, passamos à absoluta, porém tangível e palpável, transcendência em Platão” (p. 31).
Assunto infindável. Dos melhores.
Valeu, Fábio. Acho que vou até acrescentar mais uns parágrafos ao texto…
“Antes o mundo era pequeno
Por que Terra era grande
Hoje o mundo é muito grande
Porque Terra é pequena
Do tamanho da antena
Parabolicamará”
[b]Teoria do romance[/b] é sempre uma obra instigante! Acho a contextualização dess estudo do Lukács perfeita, ainda que incompleta.
Obrigado pelo comentário, Bianca. Long time no see…, como dizem os americanos.
Estou pensando em reler o Lukács. Minha última leitura foi no lançamento da tradução da Editora 34, em português brasileiro, em 2000. Antes disso, tínhamos só a rara tradução portuguesa do Alfredo Margarido.
Ah, sobre o Gilberto Gil e a inusitada, e boa, conexão que fizeste: gosto/gostei.
Abraço,
Vinicius