Nota: O calor e a indolência deste janeiro fizeram-me recuperar, no que chamarei de Série “recauchutagem”, alguns pequenos textos publicados, há algum tempo, em outro local. Assim, não se perdem (não me perco) totalmente. No quadro acima, Aristóteles encara o busto de Homero. Fantasia de Rembrandt ao gosto dos leitores da Poética.
Por que literatura? Por que filosofia? Será que o dinheiro não nos basta? Mesmo quando temos muito, muito dinheiro, lemos. Trata-se de um paradoxo; não há dúvidas. Ou há? Mas continuo: por que a preferência pelo espírito quando se tem o corpo? Por que o intangível quando se tem a massa? Eu, que estou velho, e não faço parte da nova, rebelde e — lá vai um oxímoro — conservadora intelectualidade, estranho quem hoje começa a ler Filosofia com ar de grande sabedoria e em atitude blasé de quem não vê novidade em nada. Estranho-os todos, pois hoje releio a Filosofia, com ar de grande curiosidade e ignorância. Eles, yuppies livrescos do novo século, sem dúvida muito sábios, gritam e gargalham e usam roupas e cabelos extravagantes para reforçar tamanho discernimento; eu, tão burro e tão silente, apenas observo, com minha camisa social para dentro das calças, e cabelos mais ortodoxos do que os de meu pai, que era funcionário público.