
A incrível e meritória (?) arte de escrever sobre o que não se sabe: eis o que é a filosofia. Uma tentativa de estabelecer o necessário, o almejado e tão-somente necessário, como possibilidade de comprovação de verdades, que não são mais do que ínfimas. A escrita em ziguezague de Hegel e a escrita em espiral de Heidegger tateiam pela escuridão de nossa humana incerteza e julgam trazer-nos certa luz. Ocorre que a luz é, apesar do esforço, bruxuleante: não aquece, nem ilumina (como diria o Carlos de Itabira). Com isso, ou por isso, a vida apresentada como está, seja ela a vida natural e assistemática, seja ela a vida sistemática do acorda-come-trabalha-dorme (ou até mesmo a vida sex-sleep-eat-drink-dream de rei escarlate), acaba sendo apenas um fim em si mesmo, instaurando sobre nossas cabeças, como a espada da lenda, a necessidade/inexorabilidade de uma só coisa insofismável: nossa estupidez.


