Sentada à bateria, a menina executa os rudimentos de Gene Krupa. É a sua primeira manhã no apartamento. As paredes estão forradas com caixas-de-ovo: isolamento acústico.
Na Imobiliária Jerusalém, à mesa de madeira escurecida, Edmilson bate feito um primata nas teclas de sua velha Remington verde-musgo. Vender um imóvel à vista significou um bom dinheiro:
— Aquela baterista merece flores — diz para interlocutor nenhum.
Vai, depois de almoçar um prato-feito regado à fanta uva, até a floricultura japonesa e compra — recomendação da proprietária — um arranjo de bromélias. Na verdade, o que ele aprecia são as dálias.
— Flores bregas — disse-lhe a oriental.
Ao sol esbraseado, com a camisa empapada e um palito na boca, caminha até o apartamento da moça.
No interfone procura o número e crava-lhe o polegar três vezes, em intervalos intermitentes.
A menina, lá em cima, acompanha a rapidez cromática do bebop de Charlie Parker.
Junto ao muro do edifício, às quatro da tarde, um vira-lata urina sobre o alaranjado ressequido das bromélias.