Aí está mais uma tradução, ainda não integralmente revisada, de uma obra de Melville inédita em língua portuguesa. Desta feita, apresento tão-somente a primeira página de seu segundo romance, Omoo [um dia explico o título]. O original vai em preto; minha tradução, em azul.
Como meus trabalhos de mestrado e doutorado basearam-se em obras do autor nova-iorquino, sinto-me à vontade para traduzi-lo. As editoras, com raras exceções, é que não gostam de publicá-lo, seja no Brasil, seja em Portugal… Um dia acordam.
Omoo (Herman Melville)
Part I
Chapter I
Omoo (Herman Melville)
Parte I
Capítulo I
My reception aboard
It was the in the middle of a bright tropical afternoon that we made good our escape from the bay. The vessel we sought lay with her main-topsail aback about a league from the land, and was the only object that broke the broad expanse of the ocean.
Minha recepção a bordo
Foi no meio de uma tarde clara nos trópicos que conseguimos finalmente escapar da baía. A cerca de uma légua da costa, o navio que procurávamos, com sua vela principal arriada, era o único objeto a quebrar a vastidão do oceano.
On approaching, she turned out to be a small, slatternly-looking craft, her hull and spars a dingy black, rigging all slack and bleached nearly white, and everything denoting an ill state of affairs aboard. The four boats hanging from her sides proclaimed her a whaler. Leaning carelessly over the bulwarks were the sailors, wild, haggard-looking fellows in Scotch caps and faded blue frocks; some of them with cheeks of a mottled bronze, to which sickness soon changes the rich berry-brown of a seaman’s complexion in the tropics.
Quando nos aproximamos, tal embarcação revelou-se pequena e malcuidada, o casco e os mastaréus eram de um preto já esmaecido, o cordame todo frouxo e esbranquiçado – tudo a denotar uma situação desfavorável a bordo. Os quatro botes que pendiam do barco proclamavam: tratava-se de um baleeiro. Debruçados de maneira negligente por sobre a amurada estavam os marinheiros, homens de aspecto selvagem e bárbaro, com seus gorros escoceses e jaquetas de um azul desbotado; alguns tinham a face mosqueada de bronze, cor para a qual, nos trópicos, a doença logo muda a antes rica e avermelhada face dos marujos.
On the quarter-deck was one whom I took for the chief mate. He wore a broad-brimmed Panama hat, and his spy-glass was levelled as we advanced.
No tombadilho, havia um homem que julguei ser o imediato. Usava um chapéu panamá de aba larga, e seu telescópio apontava para nós enquanto nos aproximávamos.
When we came alongside, a low cry ran fore and aft the deck, and everybody gazed at us with inquiring eyes. And well they might. To say nothing of the savage boat’s crew, panting with excitement, all gesture and vociferation, my own appearance was calculated to excite curiosity. A robe of the native cloth was thrown over my shoulders, my hair and beard were uncut, and I betrayed other evidences of my recent adventure. Immediately on gaining the deck, they beset me on all sides with questions, the half of which I could not answer, so incessantly were they put.
Ao chegar à lateral do navio, ouvimos vozes graves percorrerem o convés, e todos nos fitavam de maneira inquiridora. Tinham razão em fazê-lo. Para não falar da incivilizada tripulação de nosso bote, pulsando de tanta agitação, toda gestos e vociferações, minha aparência por si só já provocava curiosidade. Um manto feito com tecido nativo envolvia-me os ombros, meu cabelo e barba estavam grandes e desgrenhados – minha própria figura traía outros indícios de que recentemente passara por uma aventura.Tão logo ganhei o convés, cercaram-me por todos os lados com perguntas, metade das quais não pude responder, pois era ininterrupto o fluxo pelo qual me eram feitas.
Caro Vinicius Figueira,
Certamente um texto seu será de MUITA ajuda aos meus alunos! Publique sim!! Agradeço muito sua iniciativa!
Prezada Bianca,
Já comecei a publicação. Estou tentando tornar o texto o mais palatável possível. Aos poucos, finalizo o trabalho.
Cordialmente,
Vinicius
Eu sou holandês, residente no Brasil por mais de 40 anos e me interesso muito pelas traduções de uma língua para outra. Penso que traduzir Melville é quase recriar a obra. A linguagem poética do autor é difícil de traduzir, é um verdadeiro artesanato, um trabalho de monge! Parabens com suas tentativas de traduzir cuidadosamente e no entanto numa linguagem atual. Eu também aguardo impacientemente a publicação deste novo livro. Parabens e vai em frente neste trabalho que vale a pena.
Obrigado, René. Pois é, trata-se de um trabalho de monge mesmo, você tem razão.
Ainda não apresentei proposta a nenhuma Editora. Quem sabe um dia…
Um abraço,
Vinicius