
Em que medida o belo acompanha o verdadeiro ou pode ser expressão dele se o verdadeiro pertence à Lógica, e o belo, à Estética? Em que condições o belo artístico se assemelha ao belo natural se a lua cheia, avermelhada e gigantesca que se doa a mim tão graciosamente em meio a prédios e casas e apartamentos não se deixa jamais reduzir por inteiro ao trabalho do artífice? Sentidos e intelecto não se misturam tão facilmente − pelo menos não o fazem antes da tentativa de anulação da continuidade do tempo por um homem chamado Hegel (o que acaba dando em uma derivada pós-moderna e abstrusa, que não comentarei agora). Para entender essa bem intencionada anulação, gosto de juntar dois versos de Procura da poesia, de Drummond: “a poesia elide sujeito e objeto… diante dela a vida é um sol estático, não aquece nem ilumina”. A arte quase sempre nos aguarda para que tudo deslindemos, mas em geral não estamos prontos. Citando ainda o poeta de Itabira, é como se a poesia (aqui como representante máxima da arte) nos perguntasse: “trouxeste a chave?”. E nós, petrificados, não soubéssemos dar a resposta.


