Kant é o homem que tenta desvincular o fim (a utilidade) do objeto artístico da sua finalidade (isto é, do prazer subjetivo que provoca). O fim diz respeito aos objetos empíricos, ou seja, que têm utilidade prática na vida. Toda vez que predomina o fim na arte, temos “beleza aderente”; quando não há predominância do fim, temos “beleza livre”, desinteressada. Quando vemos arabescos (desenhos abstratos), por exemplo, não os associamos a nada que exista previamente: trata-se, segundo Kant, de beleza livre. Isso não ocorre na arte figurativa (e nem, diga-se de passagem, na literatura realista), que sempre adere a um objeto anterior, previamente existente. A beleza aderente, portanto, sempre depende de um conceito anterior, ao passo que a beleza livre não se apega a conceito algum. Agora vamos ao nó da questão: O juízo do conhecimento (dizer “isto é verdade”) se baseia no conceito mas dispensa a sensação, pretendendo ter validade universal. O juízo estético (dizer “isto é belo”) se baseia na sensação mas dispensa o conceito, também pretendendo ter validade universal. O ponto em comum entre ambos, vislumbrou Kant, é pretender a validade universal. Daí a tentação que temos de analogicamente dizer, quando, por exemplo, ouvimos um prelúdio de Bach “esta obra artística é pura expressão da verdade”. Mas o ponto não resolvido por Kant e pelo primado da subjetividade é que o juízo estético (a pretensão de validade universal do juízo que fazemos do objeto artístico) depende tão somente do olho (ou dos ouvidos, no caso de Bach) do observador.