Aí abaixo está minha tradução de um trecho do famoso “Heart of Darkness”, de Joseph Conrad, publicado pela primeira vez em 1902. Trata-se, penso eu, de uma boa leitura para o brasileiro urbano medianamente instruído que, ao voltar de suas férias, logo se depara com uma horda de nobres businessmen e inteligentíssimos comunicadores que lhe indicam o caminho “do sucesso”, o caminho “dos vencedores”. Enjoy it, Mr. Gehringer!
“Lá estava eu novamente na cidade sepulcral, ressentindo-me de ver as pessoas correndo apressadas pela rua para surrupiar algum dinheiro umas das outras, para devorar sua comida infame, para engolir sua cerveja insalubre, para sonhar seus ridículos e insignificantes sonhos. Elas invadiam meus pensamentos. Eram como intrusos cujo conhecimento da vida sempre me fora uma farsa irritante, porque eu tinha certeza absoluta de que não conheciam o que eu conhecia. Sua conduta, que era simplesmente a conduta de indivíduos comuns que tocavam sua vida sob a garantia de uma perfeita segurança, me era ofensiva como é o pavoneamento exagerado dos tolos diante de um perigo que são incapazes de compreender. Eu não tinha nenhum desejo de iluminar-lhes o caminho; tinha mesmo era alguma dificuldade em abster-me de rir de suas caras, repletas de uma presunção imbecil.”
Original de Conrad (Penguin, 1994, p. 102)
“I found myself back in the sephulchral city resenting the sight of people hurrying through the street to filch a little money from each other, to devour their infamous cookery, to gulp their unwholesome beer, to dream their insignificant and silly dreams. They trespassed upon my thoughts. They were intruders whose knowledge of life was to me an irritating pretence, because I felt so sure they could not possibly know the things I knew. Their bearing, which was simply the bearing of commonplace individuals going about their business in assurance of perfect safety, was offensive to me like the outrageous flauntings of folly in the face of a danger it is unable to comprehend. I had no particular desire to enlighten them, but I had some difficulty in restraining myself from laughing in their faces, so full of stupid importance”.
Incrível como humano é um bicho repetitivo né?
Concordaria com ele em 1902, assim como concordo plenamente mais de um séc. depois.
Fiquei curiosa. Lerei.
ps. POP é BOM! Se alguém tem que complicar, que não seja o tradutor.
Abç.
A repetição é realmente bastante comum, Débora. Ainda assim, é bom lembrar que, felizmente, as repetições de uns não são as repetições de outros. É a possibilidade do novo que faz com que nos mantenhamos no mundo, divergentes. Um abraço, Vinicius.